Jornalista estava internado havia 2 semanas. Mino Carta foi diretor de importantes revistas e jornais brasileiros como Veja e Carta Capital
Foto: Reprodução/ Carta Capital
Morreu nesta terça-feira (2/9), aos 91 anos, o jornalista Mino Carta. O fundador e diretor de redação da revista Carta Capital, o jornalista estava internado havia duas semanas na UTI do hospital Sírio Libanês, em São Paulo. A causa da morte não foi divulgada.
Nascido Gênova, na Itália, Demetrio, mais conhecido como Mino, chegou ao Brasil com os pais, em 1946. A família veio para São Paulo onde ele, anos depois, chegou a ingressar no curso de direito da Universidade de São Paulo (USP), mas não se formou.
Lula e jornalista Mino Carta
Foto:Ricardo Stuckert/PR
No início da década de 1980,em entrevista com Trancredo Neves, candidato a presidência, para a TV Record
Foto: Reprodução/ IREE
Com Victor Civita, apresenta a Quatro Rodas ao então governador paulista Adhemar de Barros Foto: Reprodução/ IREE
Foi no jornalismo que fez carreira, seguindo uma tradição familiar. Seu avô materno Luigi Becherucci perdeu o cargo de diretor do jornal genovês Caffaro em meio à perseguição fascista. Seu pai, Giannino, depois de preso pelo regime de Benito Mussolini, deixou a Itália após a Segunda Guerra Mundial, ao receber um convite para dirigir a Folha de S. Paulo – cargo que não pode assumir por ser estrangeiro.
Em entrevista para o Instituto Para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), Mino contou que seu interesse pelo futebol o acabou levando ao jornalismo. Seu pai foi convidado para escrever sobre os preparativos do Brasil para a Copa do Mundo de 1950. Como ele detestava futebol, repassou a função ao filho. “Eu perguntei: ‘Quanto pagam?’ Ele respondeu: ‘Pagam x.’ Então, pensei: ‘Com esse dinheiro, dá para mandar fazer um terno azul marinho’”, disse ao IREE.
Ao longo da carreira, Mino fundou e dirigiu importantes veículos, como as revistas Quatro Rodas, Veja, IstoÉ e CartaCapital, além do tradicional Jornal da Tarde.
Ao responder ao IREE sobre como foi trabalhar na revista Veja quando o veículo fazia oposição ao governo autoritário militar, Mino disse que era “ótimo”:
“Era muito bom [risos]. Era ótimo, de verdade. Porque aí a questão que se impunha era ludibriar os censores, na medida do possível, e os donos da casa também. Confesso que me esbaldei. [risos] Percebi ali o quanto o jornalista, como espectador, observador e analista, pode contribuir para uma visão correta dos eventos”, disse.
Durante a Ditadura Militar, Mino Carta foi interrogado em duas ocasiões.
Ele recebeu a honraria de doutor honoris causa pela Faculdade Cásper Líbero. Em 2006, recebeu o prêmio de Jornalista Brasileiro de Maior Destaque no Ano da Associação dos Correspondentes da Imprensa Estrangeira no Brasil (ACIE).
O jornalista escreveu livros, de ficção e de não-ficção. Entre eles, o romance O Castelo de Âmbar, Histórias da Mooca, com as bençãos de San Gennaro e O Brasil, publicado em 2013.
Lula decreta luto oficial
Em nota oficial, o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ter recebido a notícia da morte de Mino Carta, a quem se referiu como “amigo”, com muita tristeza. Em memória ao jornalista, o governo federal decretou luto oficial de três dias.
“Conheci Mino há quase cinquenta anos, quando ele, pela primeira vez, deu destaque nas revistas semanais para as lutas que nós, trabalhadores reunidos no movimento sindical, estávamos fazendo por melhores condições de vida, por justiça social e democracia. Foi ele quem abriu espaço para minha primeira capa de revista, na Istoé, em 1978. Desde então, nossas trajetórias seguiram se cruzando. Eu, como liderança política, ele, como um jornalista que, sem abdicar de sua independência, soube registrar as mudanças do Brasil. Vivemos juntos a redemocratização, as Diretas Já, as eleições presidenciais e as grandes transformações sociais das últimas décadas”, escreveu Lula.
No texto, o presidente ainda diz que Mino é uma referência para o jornalismo brasileiro. “Se hoje vivemos em uma democracia sólida, se hoje nossas instituições conseguem vencer as ameaças autoritárias, muito disso se deve ao trabalho deste verdadeiro humanista, das publicações que dirigiu e dos profissionais que ele formou”.
Fonte: Metrópoles
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