Adolescente de 14 anos usou a arma de fogo do próprio pai, um CAC, para matar toda a família. “Perguntei o motivo de ter matado o irmão, uma criança pura, inocente, e ele respondeu que o matou para que não sofresse com a perda dos pais”, relata o delegado do caso. O adolescente ainda pesquisou como sacar FGTS dos pais.
Por Ana Oliveira e Felipe Borges
Pragmatismo Político
A frieza com que o adolescente de 14 anos descreveu o assassinato dos próprios pais e do irmão caçula, no interior do Rio de Janeiro, ainda causa perplexidade entre os investigadores. A Polícia Civil o apreendeu na quarta-feira (25), quatro dias após os crimes, cometidos na pequena comunidade de Comendador Venâncio, distrito de Itaperuna, no Noroeste Fluminense. Ao ser questionado sobre o que havia feito, respondeu sem hesitar: “Faria tudo de novo”.
Segundo as investigações, o adolescente aguardou que os pais adormecessem no sábado (21), pegou a arma que o pai mantinha escondida sob a cama — um revólver legalizado, registrado em nome dele como CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) — e os matou a tiros. Em seguida, voltou ao quarto e disparou contra o irmão mais novo, de apenas oito anos. Questionado pelo delegado Carlos Augusto Guimarães sobre o motivo de ter tirado a vida do caçula, respondeu que o matou para “não deixá-lo sofrer com a morte dos pais”.
O garoto, que até então levava uma vida aparentemente comum, estudando em escola pública e passando grande parte do tempo online, confessou ter arrastado os corpos sozinho pela casa, usando produtos químicos no chão para disfarçar rastros de sangue, antes de jogá-los em uma cisterna nos fundos do terreno. Por dias, respondeu com mentiras a familiares que buscavam notícias da família. Disse à avó que os pais haviam levado o irmão ao hospital porque ele havia engolido um caco de vidro.
A versão não se sustentou por muito tempo. A avó e um tio estranharam o silêncio e procuraram a polícia. Hospitais da região foram acionados, mas não havia nenhum registro de atendimento com os nomes das vítimas. Ao ser confrontado, o adolescente não demonstrou resistência em admitir os crimes. Tampouco remorso.
Os agentes descobriram que, após os assassinatos, ele utilizou o celular para fazer buscas sobre como sacar o FGTS de uma pessoa falecida. Sabia que o pai tinha cerca de R$ 33 mil na conta do fundo. Além disso, os policiais investigam o relacionamento virtual que ele mantinha com uma adolescente do estado do Mato Grosso, com quem se envolveu por meio de um jogo online. Os pais eram contrários à relação — o que, segundo o próprio adolescente, teria motivado os assassinatos.
Para o delegado responsável, não há como racionalizar o crime. “Tudo isso compõe um enredo cabuloso, horrendo, que tirou a vida da própria família sem qualquer motivação concreta — e também a dele próprio, em termos simbólicos. Estamos diante de um caso que assombra até investigadores experientes”, declarou Guimarães.
O adolescente foi apreendido em flagrante e responderá por ato infracional análogo a triplo homicídio qualificado e ocultação de cadáver. O caso foi encaminhado ao Ministério Público, que deve solicitar a internação provisória do jovem enquanto prosseguem as investigações, inclusive sobre a possível participação da garota com quem ele se relacionava virtualmente.
Fonte: Site Pragmatismo Político