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A comunidade de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, voltou a ser palco de um ato de violência da Polícia Militar (PM). Na tarde dessa quinta-feira (10/7), um suspeito foi morto por policiais em um suposto confronto. Ele estava rendido.
À noite, a comunidade, que lidera as mortes por PMs em SP, protestou. Durante a manifestação, outro homem, de 29 anos, foi morto por agentes da Segurança Pública do estado.
PM repudiou morte de homem rendido
Em coletiva de imprensa na manhã desta sexta (11/7), o porta-voz da PM, coronel Emerson Massera, afirmou que não havia justificativa para os agentes da corporação terem atirado e matado um homem já rendido durante a operação em Paraisópolis.
Segundo Massera, o homem já estava dominado, com as mãos na cabeça, quando os policiais fizeram os disparos. “Dois policiais efetuaram os disparos. Não havia nada que justificasse nesse momento o disparo por parte da força policial”, disse.
Por conta da conduta, os dois agentes foram presos em flagrante. Os demais PMs presentes na operação, que testemunharam os tiros, foram indiciados, mas não presos.
Veja declaração do porta-voz da PM:
PM mudou versão
Inicialmente, a PM afirmou que agentes realizavam patrulhamento pela região quando receberam uma denúncia sobre indivíduos que estariam armados com fuzis na região.
Segundo a corporação, ao chegar no local, os policiais perceberam uma “correria” e uma tentativa de fuga por parte de quatro suspeitos.
Os supostos criminosos entraram em uma residência da região, onde teriam sacado uma pistola contra os agentes, que revidaram.
O suspeito foi baleado e morreu no local. Os outros três foram presos.
Armas de fogo, munições, entorpecentes e anotações do tráfico foram apreendidos.
Mais tarde, a polícia informou que a operação no local foi montada para averiguar a existência de uma casa-bomba na região. O endereço, contudo, não foi localizado.
Comunidade protestou após morte de suspeito
Os moradores de Paraisópolis protestaram após a morte de homem de 29 anos, em suposto confronto com a polícia. Os manifestantes montaram barricadas e atearam fogo em pneus e madeira nas ruas do bairro.
Eles também viraram carros e trocaram tiros com policiais militares das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rotas). Os moradores foram contidos por 300 agentes.
Durante a manifestação, outro homem foi morto. Desta vez, a PM afirma que não houve exagero por parte da corporação. Um policial foi baleado e socorrido ao Hospital Albert Einstein.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) dividiu o caso em duas ocorrências: a da operação que matou um homem durante a tarde e a do protesto em si. Ambas estão sendo investigadas pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), por meio de inquérito policial.
Um inquérito policial militar também foi instaurado para apurar os fatos. As câmeras corporais dos agentes serão analisadas para completo esclarecimento das ocorrências, informou a pasta.
Paraisópolis lidera mortes por PMs
Como o Metrópoles mostrou na reportagem especial A Política da Bala, a comunidade de Paraisópolis é líder, em toda a capital paulista, no número mortes causadas por PMs. O material, que analisou 246 mortes em ações da corporação, revelou que os agentes mataram 85 pessoas desarmadas e 47 com tiros pelas costas.
O 89º Distrito Policial (Morumbi) é a delegacia com a área que possui mais casos na cidade, um total de 14. Desses, a reportagem localizou cinco casos apenas em três quarteirões de Paraisópolis. Ao menos um deles, sobre a morte de um adolescente, levantou suspeitas de que o suposto confronto apontado pelos PMs pode não ter acontecido.
Os casos aconteceram nas ruas Herbert Spencer, Pasquale Gallupi e Ernest Renan – esta última é a mesma onde acontecia o baile funk em que houve o tumulto com a chegada de PMs e que resultou nas mortes dos jovens que estavam no local. Dos 22 PMs que mataram mais de uma pessoa em 2024, cinco são do 16º Batalhão, que atende a região de Paraisópolis.
O que diz a PM
A Polícia Militar afirmou, por meio de nota, que “não tolera desvios de conduta” e que, “como demonstração desse compromisso, desde o início da atual gestão, 463 policiais militares foram presos e 318 demitidos ou expulsos”.
Segundo a corporação, todas as mortes por policiais são investigadas com acompanhamento da Corregedoria e do Ministério Público do estado. Além disso, o comunicado afirma que em todos os casos são instauradas comissões para identificar “não-conformidades”.
“A atual gestão investe em formação contínua do efetivo, capacitações práticas e teóricas, e na aquisição de equipamentos de menor potencial ofensivo, como armas de incapacitação neuromuscular, com o objetivo de mitigar a letalidade policial”, diz a nota.
Fonte: Metrópoles