RESUMO DA NOTÍCIA
- Bombeiros do estado do Rio em áudios espalhados em grupos de Whatsapp criticaram a gravação do filme 'Juntos e Enrolados' no quartel-central.
- Nas cenas, a atriz Cacau Protásio aparece vestida com farda de bombeiro dançando com bailarinos, chamados de 'viados' nos áudios dos bombeiros.
- Nas mensagens, os bombeiros tratam a atriz com expressões racistas e gordofóbicas.
- Segundo um dos áudios, o comandante-geral da corporação havia solicitado que parassem de compartilhar as mensagens.
- No dia da filmagem, Cacau se mostrou feliz em suas redes sociais, agradecendo o apoio do Corpo de Bombeiros, a quem disse devotar todo o respeito.
A gravação de uma cena do próximo filme da atriz Cacau Protásio, 'Juntos e Enrolados', está causando um verdadeiro salseiro entre os bombeiros do estado do Rio de Janeiro. Nas cenas, gravadas no último domingo (24), no Quartel-Central do Corpo de Bombeiros, no Centro do Rio, a atriz aparece com farda, dançando acompanhada de quatro bailarinos, fato que não agradou aos integrantes da corporação, que enviaram áudios em grupos de Whatsapp, criticando a liberação.
Em uma das mensagens, um homem diz: "Olha a vergonha no pátio do quartel central. Essa mulher do 'Vai que Cola', aquela gorda, colocou a farda e botou os dançarinos viados com roupa de bombeiro. Isso é um esculacho, rapaz. Qual é a desse comandante? Vai deixar uma pu*$ria dessas no pátio do quartel?".
Em outro áudio, outro homem classifica a presença do grupo no quartel como lamentável, fazendo uso de termos homofóbicos, gordofóbicos e racistas. "Vergonhoso. Mete aquela gorda, preta, filha da puta numa farda de bombeiro, uma bucha de canhão daquela, com um monte de bailarino viado, quebrando até o chão. Vão achar que é o que? Bombeiro? Aquilo é tudo viado. Lamentável."
A repercussão nos grupos parece ter incomodado o comandante-geral da corporação, Roberto Robadey. Ao menos é o que indica outro áudio compartilhado nos grupos de Whatsapp dos bombeiros. Nele, uma mulher fala a respeito de evitarem compartilhar os áudios criticando a equipe de filmagem.
"A Coronel Cátia passou aqui pra gente que o comandante-geral não quer que fique reenviando essa gravação que foi feita no quartel central. Então, vamos parar de ficar enviando para os grupos.", diz a mulher.
No dia da gravação, Cacau agradeceu em suas redes sociais o acolhimento recebido pelos bombeiros e se disse orgulhosa por interpretar uma integrante da instituição. "Eu gostaria de agradecer a CBMERJ, na Praça da República, por nós receber muito bem hoje. Nos assessorou em todos os momentos. Muito obrigada. Essa corporação tem meu respeito. Eu estou amando fazer a bombeiro sargento Diana.", escreveu ela, revelando também que a personagem é uma homenagem a familiares que servem à corporação. "Eu quero homenagear os bombeiros maravilhosos da minha família, Cláudio Valente e Dirceu Protásio.", disse.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, a atriz Cacau Protásio, muito abalada, comentou a repercussão da filmagem e o teor das mensagens de áudios: "Em respeito a vocês, vim aqui dizer o que está acontecendo. Estou fazendo um filme onde interpreto uma bombeiro sargento, e, domingo, fui gravar no batalhão no centro da cidade. Fui super bem recebida e bem assessorada, sendo que tem um bombeiro que fez um vídeo de uma cena solta e espalhou por aí. Em momento algum ele desceu pra saber o que tava acontecendo, o que é que era. E a cena que ele postou é um pedaço de uma cena que é um sonho do meu superior. Eu faço um filme, eu conto história. Aquilo ali é uma ficção, não é realidade. E ele espalhou o vídeo com um áudio me xingando de negra, gorda, filha da puta, cambada de viado. Racismo é preconceito, se ele não sabe. E isso é muito triste. Não entendi por que tanto ódio", disse.
A atriz continuou: "Sou negra, sou gorda, sou brasileira, sou atriz, eu conto histórias, conto ficção. Não mereço ser agredida, assim como nenhuma pessoa. Eu respeito a opinião de alguns bombeiros que dizem que 'ah, eu não acho certo', mas vai ver realmente a história antes de agredir. Eu printei tudo o que foi colocado na minha página. Tem uma menina no Facebook também superfalando mal. Postou uma foto minha de farda e os coleguinhas dela me detonando. Tudo isso eu printei, porque é crime. Você ser preconceituoso é crime. Racismo é crime. Você pode não gostar, mas tem que respeitar. E por que esse ódio? Juro que não entendo. A cena é uma alucinação de um personagem, um sonho, quando ele volta eu tô ali, trabalhando. O bombeiro é uma corporação que eu respeito, que amo, que queria ser quando criança. Nas minhas primeiras entrevistas, sempre falei isso".
Cacau aproveitou para criticar a postura dos profissionais que a insultaram. "Sei que sou uma pessoa forte, mas ouvir tudo isso de um ser humano é horrível, é muito triste. E como uma pessoa que veste uma farda tão linda tem essa postura? Como posso dizer que ele salva vidas, que ele faz o amor, tendo essa postura e falando tanta coisa horrorosa, tanta coisa feia, ofendendo? Eu respeito e acho que eles têm o direito de gostar ou não gostar. Mas eles tinham que perguntar primeiro. O mal da gente é primeiro julgar e jogar pedra, pra depois saber o que era e falar que não era algo tão ruim. Só estou aqui pra dizer que racismo é crime. Isso não se faz", completou.
Por fim, a atriz disse que, em função da repercussão, existem chances de a cena gravada nunca ir ao ar: "A filmagem da gente foi tão legal e, agora, eu ouço que vai ser tirada do filme, que vão mandar cortar. Então por que as pessoas que estavam lá autorizando acharam legal, abraçaram a gente e disseram que estava tudo bem? A gente não fez nada absurdo. Se as pessoas pedirem pra ver a cena, vão ver que não é nada absurdo. Mas respeito a opinião dos bombeiros. Não sei o que eles passam, só admiro. Mas peço que a gente tenha mais compaixão um com o outro".
Em nota oficial, a assessoria de Imprensa do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro informou que "não compactua com qualquer ato discriminatório. A corporação se solidariza com a atriz Cacau Protásio e já abriu procedimento interno para identificar o(s) militar(es) e apurar a conduta. O CBMERJ reforça o seu compromisso com a população de 'Vida Alheia e Riquezas Salvar' independente de cor, gênero, raça ou qualquer outra distinção. Os atos divulgados não representam a corporação centenária que, por anos seguidos, é considerada a instituição mais confiável do Brasil."
Fonte: UOL
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